Tem dias que a gente acorda alegre, outros nem tanto... Oscilações de humor todo mundo tem. Mas quando isso se dá de forma muito intensa e imprevisível, levando a extremos de depressão ou euforia, os altos e baixos deixam de ser um comportamento natural e passam a ser encarados como doença. É o chamado transtorno bipolar.
“A bipolaridade significa uma oscilação de humor fora de sintonia com o que está de fato acontecendo. Os bipolares podem estar alegres, irritados ou enérgicos demais sem motivo, assim como no momento seguinte podem ficar ansiosos, deprimidos ou apáticos. É uma epidemia mundial, mas as pessoas ainda não a reconhecem”, explica o psiquiatra Diogo Lara.
Cássia de Oliveira, de 53 anos, é uma pessoa bipolar. “A oscilação do humor sempre foi marcante na minha vida. Muitos me achavam emburrada, rebelde, nervosa e impaciente. Durante as crises, era intolerante, explosiva, perdia o
controle, fazia escolhas erradas e tinha mania de grandeza. Busquei vários tipos de ajuda, mas não encontrei o equilíbrio”, conta.
De acordo com Lara, a doença trata-se de um distúrbio químico e de comportamento. “A atitude é muito influenciada por alterações químicas no cérebro de quem tem altos e baixos no humor. Por outro lado, comportamentos extremos também podem alterar a química do cérebro”, diz o psiquiatra.
“A atitude é muito influenciada por alterações químicas no cérebro de quem tem altos e baixos no humor. Por outro lado, comportamentos extremos também podem alterar a química do cérebro”
Há 14 anos, Cássia montou uma empresa. No dia-a-dia, tinha atitudes agressivas com funcionários e sócias. “O que mais me atormentava era que percebia claramente como a minha conduta era inadequada. A força de vontade não bastava para controlar meus impulsos. Cheguei a pensar em morrer”, afirma.
Quem percebe melhor a doença são as pessoas em volta. “Como regra, quem tem bipolaridade busca ajuda quando sente o lado depressivo: desânimo, ansiedade, irritação, impulsividade ou desconcentração. Por isso, a bipolaridade acaba sendo diagnosticada como falta de atenção e hiperatividade”, esclarece Lara.
Depois de dois anos com a empresa, Cássia procurou ajuda.
“Fui a um psiquiatra e recebi um tratamento inadequado. Tomava antidepressivos que me deixavam artificialmente tranqüila. Os medicamentos tinham a propriedade de trazer um bem-estar
durante um período, depois não faziam mais efeito. O diagnóstico
de bipolaridade foi realizado há quatro anos. E hoje, seguindo a orientação correta, minha vida é absolutamente tranqüila. Sei que a doença não tem cura e que existe a possibilidade de uma regressão”, diz Cássia.
Segundo Lara, antidepressivos e psicoestimulantes elevam demais o humor ou perdem o efeito em poucos meses, além de aumentar a irritação e a ansiedade. “De 10% a 15% dos que têm tratamento inadequado tentam o suicídio, de forma mais impulsiva do que planejada”, afirma o médico.
Tratamento
O objetivo do tratamento é harmonizar o humor preservando o brilho do temperamento. “Isso se consegue com bons hábitos de vida, psicoterapias e remédios estabilizadores do humor, como a lamotrigina, a quetiapina e o lítio”, afirma Lara.
De acordo com o especialista, os medicamentos são eficazes e com poucos efeitos colaterais. “Ao contrário do que muitos pensam, o tratamento correto com medicamentos deixa essas pessoas mais produtivas e satisfeitas. O temperamento bipolar pode favorecer a ousadia, a curiosidade, a inovação e a sexualidade. Muitas pessoas de projeção têm essas características, e justamente por isso elas fazem sucesso”, diz o médico.
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Há 4 anos
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