quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Drunkorexia

Entenda o transtorno de Renata em Viver a Vida

"Viver a Vida" mal começou e já está prestando um serviço de utilidade pública. Quem acompanha a novela já percebeu que Renata, personagem de Bárbara Paz, exagera na bebida alcoólica para esquecer as suas frustrações profissionais e, como não quer engordar, deixa também de se alimentar, tendo constantemente crises de hipoglicemia, que deixa seu namorado, Miguel, muito preocupado. E com razão! Este problema, chamado de drunkorexia, é grave e traz conseqüências sérias para o ser humano.

De acordo com a nutróloga Maria Del Rosario Zariategui De Alonso, especializada em Transtornos do Comportamento Alimentar e Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), a drunkorexia é um novo termo utilizado para definir um comportamento alimentar de risco que associa um consumo alto de bebida alcoólica com uma alimentação inadequada e restritiva. "O termo drunkorexia provém da mistura das palavras ‘drunk' que significa bêbado em inglês e ‘orexia' que provém de ‘orexis' que significa apetite. Não existe uma tradução para o português, no entanto, já teriam aparecido na mídia algumas aproximações como os termos de ‘ebriorexia', ‘alcoorexia' ou ‘anorexia alcoólica'", explica.

A drunkorexia pode ser explicada pela pressão exercida pela sociedade para ser magro e também para beber nas festas, porém são necessários múltiples fatores (genéticos, biológicos, psicológicos, familiares, precipitantes e mantenedores) para seu desenvolvimento. "O consumo de álcool teria a ver com uma maior aceitação social associado a um corpo esbelto, como das modelos e artistas que aparecem na mídia", ressalta.

Segundo Maria, este distúrbio atinge homens e mulheres entre 18 e 25 anos, aproximadamente, sendo mais vulneráveis as mulheres estudantes universitárias. "Nos últimos anos o consumo de álcool pelas mulheres tem aumentado no mundo inteiro; e também nas mulheres de 14 até 18 anos. No Brasil, um estudo realizado pelo Ministério de Saúde entre 2006 e 2008 em mulheres entre 18 e 44 anos observou que quanto mais jovens, elas mais se aproximam a forma de consumo dos homens. São mais vulneráveis as pessoas com estilos de personalidade marcados com inibição, rigidez, controle excessivo e perfeccionismo, entre outras. Por outro lado, insatisfação com o corpo e baixa auto-estima, também estão sempre presentes", enumera.

No começo a pessoa tenta compensar as calorias que ingerem em forma de álcool, de noite e nas festas, realizando um jejum forçado no dia seguinte, ou provocando o vômito após ter comido demais. Nos últimos anos também algumas pessoas utilizam o álcool como anorexígeno e se comunicam na internet dando dicas para isso.

A drunkorexia pode levar a outros distúrbios alimentares mais graves como são os quadros completos de anorexia nervosa e bulimia nervosa com todas suas complicações cardiovasculares, digestivas, endócrinas, hematológicas e ósseas. Desnutrição, desidratação, hipoglicemia, confusão e osteopenia entre outras podem estar presentes.

Posteriormente, a drunkorexia pode levar a outro problema sério de saúde: o alcoolismo e todos os danos que pode provocar no corpo e na mente, com todas suas complicações gastrointestinais, hepáticas, neurológicas e psiquiátricas, entre outras. "Carências nutricionais, depressão, pancreatite e cirrose, entre outras, também podem aparecer. É importante lembrar que nas mulheres os quadros de alcoolismo podem aparecer antes e de forma mais perigosa que nos homens devido a fatores constitucionais", ressalta a nutróloga.

O tratamento da drunkorexia associada a um transtorno alimentar deve ser multidisciplinar, com diferentes especialistas, médicos, psiquiatras, nutrólogos, psicólogos e nutricionistas trabalhando em conjunto. "O problema do abuso de álcool e do alcoolismo também precisa ser abordado nas consultas. Os dois problemas (transtorno alimentar e alcoolismo) precisam ser tratados juntos.
É importante realizar o diagnóstico precoce do distúrbio porque quanto antes for tratado, isso leva a um maior sucesso na recuperação total. Dessa forma, os familiares, pais e amigos devem ficar atentos a qualquer alteração do comportamento alimentar", garante.

A drunkorexia pode ser evitada ou diminuída através da educação alimentar e nutricional, informando a essa população de risco e seus familiares e amigos sobre os perigos desse comportamento alimentar de risco. "É reconhecido que a única forma de enfrentar altos custos com tratamentos e desigualdade na área da saúde é na prevenção das doenças. Por isso, a promoção da saúde baseia-se quase integralmente na mudança de condutas geradoras de risco, no nível individual e na criação de estilos de vida saudáveis por meio da educação", afirma.

Quando um assunto como a drunkorexia é tratado numa novela pode estar ajudando na educação nutricional ao ensinar os riscos que um comportamento alimentar inadequado pode levar, porém é importante considerar que alguma pessoa também pode gostar do glamour da personagem e tentar imitar esse comportamento. Pode também experimentar fazer, só pela curiosidade e depois de começar como uma brincadeira não conseguir parar de beber por já apresentar algum tipo de dependência com o álcool. "É um assunto delicado e deve ser sempre procurado um profissional especializado na área dos transtornos alimentares e do álcool", finaliza Maria Del Rosario Zariategui De Alonso.
Fonte:http://anamariabraga.globo.com

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