terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A cegueira do amor

Contam que uma vez se reuniram os sentimentos e qualidades dos homens em um lugar da Terra.
Quando o aborrecimento havia reclamado pela terceira vez, a loucura, como sempre tão louca, lhe propôs:
-Vamos brincar de esconde-esconde?
A intriga levantou a sobrancelha intrigada e a curiosidade sem poder conter-se perguntou:
-Esconde-esconde? Como é isso?
-É um jogo - explicou a loucura - em que eu fecho os meus olhos, conto até 1 milhão enquanto vocês se escondem, quando eu terminar de contar começo a procurá-los e o primeiro que eu encontrar ocupa o meu lugar no jogo.
O entusiasmo dançou seguido pela euforia, a alegria deu tantos saltos que acabou convencendo a dúvida e até a apatia, que nunca se interessava por nada. Mas nem todos participaram, a verdade não quis se esconder, a soberba opinou que era um jogo muito tolo, no fundo o que a incomodava era que a idéia não tinha sido dela, e a covardia preferiu não se arriscar.
-Um, dois, três... começou a contar a loucura.
A primeira a se esconder foi à pressa como sempre tão apressada, caiu atrás da primeira pedra do caminho.
A fé subiu ao céu e a inveja se escondeu atrás da sombra do triunfo que com seu próprio esforço tinha conseguido subir na copa da mais alta árvore.
A generosidade quase não conseguiu se esconder, pois cada local que achava lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos, ao contrário do egoísmo que encontrou um ótimo lugar só para ele.
A mentira se escondeu no fundo do oceano (mentira! foi atrás do arco-íris) o esquecimento, não me recordo onde se escondeu... Quando a loucura estava lá pelos 999.999 o amor ainda não havia achado um lugar para se esconder, pois todos estavam ocupados até que encontro um roseiral e decidiu esconde-se entre as rosas.
-Um milhão!
Terminou de contar a loucura e começou a procurar. A primeira a aparecer foi à pressa apenas a três passos de uma pedra. Depois encontrou a fé discutindo com Deus sobre sociologia, em um descuido encontrou a inveja e claro pôde deduzir onde estava o triunfo, o egoísmo não precisou ser procurado, saiu correndo de seu esconderijo que era um ninho de vespas. A dúvida foi mais fácil ainda, encontrou sentada em uma cerca sem decidir de que lado se escondia. E assim foi encontrando a todos, o talento nas ruas frescas, a angústia em uma cova escura, apenas o amor não aparecia quando a loucura estava dando-se como vencida encontrou um roseiral, pegou uma forquilha e começou a mover os ramos. No mesmo instante ouvi-se um doloroso grito. Os espinhos tinham ferido o amor nos olhos. A loucura não sabia o que fazer para desculpar-se, chorou, rezou, implorou e até prometeu ser sua guia. Desde então o amor é cego e a loucura sempre o acompanha.

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