terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O Barqueiro e o Erudito

Conta-se que uma vez um homem erudito aproximou-se da margem de um rio para que o barqueiro lhe permitisse atravessá-lo.
O erudito parecia que carregava toda a sua importância junto com o seu conhecimento, como se temesse perdê-lo. E assim, com
soberba de letrado, disse ao humilde e serviçal barqueiro:
- Podes passar-me para a outra margem?
- Sim, claro, são duas rupias.
E o letrado temendo sujar-se ao tocar no barqueiro, entregou-lhe essas moedas.
Quando já estavam a atravessar o rio, e enquanto o barqueiro fazia o seu trabalho, o erudito perguntou:
- Barqueiro, estudaste Sânscrito, a língua em que foram escritos os Vedas, os Upanishads, as epopeias do Mahabharata e o
Ramayana, todos os Puranas e Upapuranas, a língua de Valmiki e Vyasa, a língua em que foi escrito o glorioso Bhagavad Gita,
resumo de todo o conhecimento?
- Não senhor, nada sei de dita língua
- Oh, que desperdício de vida, então nada te posso dizer da beleza das suas estruturas sintácticas, dessas formas sublimes analisadas
pelo ilustre Patanjali.
E conheces os mistérios da Geometria, que permite medir as distâncias e as superfícies, classificar os ângulos, fundamentar o
cálculo diferencial para poder estudar claramente a Dinâmica dos Fluidos, tão necessário num trabalho como o teu?
- Oh, senhor, nada sei de Geometria
- Bem, bem, bem, oh, vida miserável e arruinada, perdeste metade da tua vida.
E Aritmética, para distinguir os números racionais, os transcendentes, os imaginários? Sabes que Pi, o número que resulta da
divisão da circunferência pelo diâmetro é um numero transcendente, tal como o número que permite calcular a forma de uma
Ciclóide, que é como a forma que assume esta corda estendida na tua barca?
- Não, não, nada sei de Aritmética
Nisto as águas do rio começaram a agitar-se movidas por uma tempestade que, de repente, e com surpreendente violência,
começou a agitar a barca. Porém o erudito estava tão possuído de seus conhecimentos e com tanta soberba para com o humilde
barqueiro que não se apercebia do perigo da situação. Repetia: «Perdeste metade da tua vida inutilmente». E continuava instigando
o nosso barqueiro com perguntas com as quais demonstrava orgulhosamente o seu saber.
- Ah claro, e seguramente também não sabes nada de Metafísica, dos mistérios da ontologia e as categorias do Ser….
- Ah, desculpe, desculpe, senhor, e você sabe nadar?
- Eu, Eu... e porque me pergunta isso, eu não sei. Porque iria saber nadar?
- Pois nesse caso, vai perder a sua vida inteira, porque esta barca afunda-se. - Dito o qual, lançou-se à água pois ele sim sabia
nadar.
Mais importante que acumular conhecimentos é encontrar o sentido da vida, como um fio mágico que conduz a nossa existência.
O grande sábio Pitágoras dizia que melhor que um tonel de conhecimento é uma gota de verdadeira sabedoria, e a sabedoria é
quem nos pode guiar no meio das tempestades do mundo. A nossa vida é uma barca frágil, o barqueiro é a consciência.
E o mais importante de aprender é a Arte de Viver.

Sem comentários: