quinta-feira, 20 de março de 2008

Antidepressivo emagrece?

Virou "moda" apelar para a fluoxetina, princípio ativo de um medicamento ansiolítico para perder peso. Saiba quando ele pode ser realmente indicado e quais os riscos que oferece


O Brasil é líder no consumo das chamadas anfetaminas, substâncias liberadas entre nós, presente nos remédios moderadores de apetite. O problema é que, segundo denúncias de especialistas da área, não são respeitados os limites de segurança no uso para casos de emagrecimento. Para tentar inibir a administração inadequada e sem acompanhamento de um profissional de saúde, tem-se estudado medidas de controle para a venda.

Pior a emenda do que o soneto.
Com o aumento do cerco à classe das anfetaminas, surgiu uma nova “mania” entre aqueles que querem perder peso rapidamente: a ingestão de antidepressivos. O princípio ativo do momento atende pelo nome de fluoxetina. Novamente vem à tona a preocupação entre os médicos quanto ao uso exagerado e incorreto desse remédio, destinado, a princípio, a pacientes com quadros de depressão.

Dois recentes levantamentos em farmácias de manipulação confirmam o avanço da fluoxetina. Um deles, o da Vigilância Sanitária de Ribeirão Preto, SP, apontou que a substância, associada a laxantes e diuréticos, foi a mais vendida em uma farmácia de manipulação da cidade: 143 receitas em apenas um mês.

A Vigilância Sanitária de Santa Catarina, por sua vez, verificou as receitas retidas de três estabelecimentos do gênero, entre agosto a dezembro de 2006. Resultado: o princípio ativo estava presente em 22% dos pedidos. Só perdeu para a anfepramona, o derivado mais usado da anfetamina.


E mais: 50% das receitas foram dadas por clínicos gerais, dermatologistas, oftalmologistas, homeopatas; 47% foram assinadas por profissionais cujas especialidades não são nem reconhecidas, como ortomoleculares.

Ativa o centro da saciedade

Os endocrinologistas responderam por 2,6% das prescrições. Essa proliferação inadequada fez as sociedades de obesidade da América Latina lançarem um documento no qual fica indicado o uso da fluoxetina apenas para obesos com depressão.

“A administração da fluoxetina, inicialmente, foi estudada em um grupo de pacientes com depressão. O problema é que se observou o seguinte: essas pessoas emagreceram mais do que aquelas de um outro grupo, ao qual não havia sido prescrita a substância”, explica Cláudia Cozer, doutora em endocrinologia pela Universidade de São Paulo (USP) e diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

Como funciona

Chamados de Inibidores Específicos da Recaptação da Serotonina (ISRS), esses medicamentos não interferem ou interferem pouco nos demais neurotransmissores.

O efeito antidepressivo dos ISRS parece ser conseqüência do bloqueio seletivo da recaptação da serotonina.

A fluoxetina foi o primeiro representante dessa classe de remédios e possui um metabólito ativo, a norfluoxetina. Esse metabólito é o ISRS que é eliminado mais lentamente do organismo. As doses dos ISRS devem ser individualizadas para cada paciente.


A fluoxetina é um medicamento que só pode ser comprado com receita branca.
Ou seja, sua venda é controlada. O pedido é feito em duas vias e uma fica retida na farmácia.

Mais de 30 dias
Até pode ser indicada para indivíduos que buscam redução de peso, mas com critério. Isso é, se beneficiariam do tratamento pacientes ansiosos e com perfil de compulsão — ou seja, os “beliscadores”. Aqui cabe um alerta: é preciso ter cuidado para o tiro não sair pela culatra.

“Nem sempre o antidepressivo reduz a fome e faz emagrecer. Alguns, inclusive, abrem o apetite. O endocrinologista deve conhecer bem o histórico do paciente antes de prescrever a droga”, aconselha a médica Cláudia Cozer.

Alguns efeitos colaterais que o uso da fluoxetina pode causar são: 1. insônia (em outros casos, ao contrário, provocar sonolência); 2. diminuição da libido (ou seja, do desejo sexual); 3. e, desânimo. A endocrinologista da Abeso diz que não há risco de vício químico. “O que pode acontecer é a pessoa ficar dependente do bem-estar que a droga traz.”

Vale lembrar: a fluoxetina tem efeito cumulativo. Ou seja, sua ação só começa 10 dias após iniciado o tratamento e os primeiros resultados aparecem depois de 30 dias. Portanto, tomar apenas por um mês não é eficaz. Sempre com receita médica, o processo para tratamento de depressão e/ou emagrecimento leva de três a seis meses.

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