quarta-feira, 31 de março de 2010

O Que é Depressão?

A depressão é uma doença "do organismo como um todo", que compromete o físico, o humor e, em conseqüência, o pensamento. A Depressão altera a maneira como a pessoa vê o mundo e sente a realidade, entende as coisas, manifesta emoções, sente a disposição e o prazer com a vida. Ela afeta a forma como a pessoa se alimenta e dorme, como se sente em relação a si próprio e como pensa sobre as coisas.
A Depressão é, portanto, uma doença afetiva ou do humor, não é simplesmente estar na "fossa" ou com "baixo astral" passageiro. Também não é sinal de fraqueza, de falta de pensamentos positivos ou uma condição que possa ser superada apenas pela força de vontade ou com esforço.
As pessoas com doença depressiva (estima-se que 17% das pessoas adultas sofram de uma doença depressiva em algum período da vida) não podem, simplesmente, melhorar por conta própria e através dos pensamentos positivos, conhecendo pessoas novas, viajando, passeando ou tirando férias. Sem tratamento, os sintomas podem durar semanas, meses ou anos. O tratamento adequado, entretanto, pode ajudar a maioria das pessoas que sofrem de depressão.
A Depressão, de um modo geral, resulta numa inibição global da pessoa, afeta a parte psíquica, as funções mais nobres da mente humana, como a memória, o raciocínio, a criatividade, a vontade, o amor e o sexo, e também a parte física. Enfim, tudo parece ser difícil, problemático e cansativo para o deprimido.
A pessoa deprimida não tem ânimo para os prazeres e para quase nada na vida, de pouco adiantam os conselhos para que passeiem, para que encontrem pessoas diferentes, para que freqüentem grupos religiosos ou pratiquem atividade exóticas.
Os sentimentos depressivos vêm do interior da pessoa e não de fora dela e é por isso que as coisas do mundo, as quais normalmente são agradáveis para quem não está deprimido, parecem aborrecedoras e sem sentido para o deprimido.
A Depressão é medicamente mais entendida como um mal funcionamento cerebral do que uma má vontade psíquica ou uma cegueira mental para as coisas boas que a vida pode oferecer. A pessoa deprimida sabe e tem consciência das coisas boas de sua vida, sabe que tudo poderia ser bem pior, pode até saber que os motivos para seu estado sentimental não são tão importantes assim, entretanto, apesar de saber isso tudo e de não desejar estar dessa forma, continua muito deprimido.
Portanto, as doenças depressivas se manifestam de diversas maneiras, da mesma forma que outras doenças, como, por exemplo, as do coração.
Respondendo a pergunta inicial sobre o que é a Depressão?, podemos dizer: a Depressão é um Transtorno Afetivo (ou do Humor), caracterizada por uma alteração psíquica e orgânica global, com conseqüentes alterações na maneira de valorizar a realidade e a vida. Depois dessa explicação seria interessante saber o que é o Afeto, já que a Depressão é uma doença afetiva.
Veja Depressão PsiqWeb

O Que é o Afeto
O Afeto é a parte de nosso psiquismo responsável pela maneira de sentir e perceber a realidade. A afetividade é, então, o a parte psíquica responsável pelo significado sentimental de tudo aquilo que vivemos. Se as coisas que vivenciamos estão sendo agradáveis, prazerosas, sofríveis, angustiantes, causam medo ou pânico, dão satisfação, etc., todos esses valores são atribuídos pela nossa afetividade. Será através de nosso Afeto que o mundo, no qual vivemos, chega até nossa consciência com o significado emocional que tem para nós.
A afetividade funciona como as lentes dos óculos através das quais enxergamos emocionalmente nossa realidade. Através dessas lentes podemos perceber nossa realidade com mais clareza ou não, com mais colorido ou não, com mais esperança ou não e assim por diante. Há determinados estados onde a pessoa enxerga sua realidade como se estivesse usando óculos escuros, ou seja, tudo é percebido de maneira cinzenta, escura e nublada. Outros percebem a realidade como se estivessem usando óculos cor-de-rosa, onde tudo parece mais exuberante. Alguns vêem o mundo através de uma lupa, onde as questões adquirem dimensões maiores e assim por diante.
Tendo em vista o fato da afetividade (lentes do óculos) ser diferente entre as pessoas, alguns sofrerão mais que outros diante de um mesmo problema. Devido a essa sensibilidade pessoal diferente para com a realidade, cada um de nós reagirá à essa realidade também de maneira muito pessoal e diferente. Aqueles que se sentem ameaçados reagem de uma maneira, aqueles que se percebem inseguros de outra, os otimistas de outra ainda, os tímidos, os expansivos, os pensativos, os sentimentais e por aí à fora, cada um reagindo à vida de maneira própria e pessoal.
Deve ficar claro que a afetividade não pode ser simplesmente submetida à influência da vontade, portanto, ninguém deseja voluntariamente Ter um afeto depressivo, assim como, também, dificilmente alguém conseguirá melhorar seu estado afetivo simplesmente porque um amigo ou pessoa de sua intimidade lhe dê bons conselhos e palavras de otimismo.
A afetividade pode ser melhorada e adequada mediante dois procedimentos: com a utilização de medicamentos que atuam nos neurotransmissores e nos neuroreceptores cerebrais e, através de práticas psicoterápicas e psicopedagógicas de aperfeiçoamento da personalidade. Nesse último caso pleiteai-se que a pessoa passe a conhecer melhor as questões de suas emoções e de sua Depressão. Através desse conhecimento pretende-se que a pessoa passe a melhorar sua relação com a realidade e consigo mesma.
Devido ao afeto depressivo e negativo, as sensações físicas corriqueiras e habituais em qualquer pessoa são valorizadas pessimistamente nos deprimidos. Uma simples tontura, por exemplo, apesar de ser um acontecimento perfeitamente trivial na vida de qualquer pessoa, é percebida como algo mais sério pelo deprimido, como uma ameaça de desmaio ou coisa assim.
Por causa do afeto depressivo as pessoas passam a observar exageradamente o funcionamento de seus organismos. Ora verificando o ritmo intestinal, ora prestando muita atenção às sensações vagas, aos formigamentos, às dores aqui e ali, às indisposições, palpitações e assim por diante.
Veja Afetividade

Como é a Depressão
O quadro da Depressão é o mais variável possível, de acordo com a personalidade da pessoa deprimida. Da mesma forma, como cada um de nós reage diferente aos sentimentos, cada um terá uma maneira pessoal de manifestar sua Depressão. Há pessoas que ficam caladas diante das suas preocupações, outras choram, outras contam suas dificuldades para todo mundo, outras sentem dor de estômago, alguns têm aumento da pressão arterial, enfim, cada um reagirá diferentemente diante de suas emoções.
Podemos fazer uma comparação didática entre a depressão e a alergia. A alergia é uma tipo de resposta de nosso organismo à alguma coisa capaz de irritá-lo. Embora várias pessoas possam ser alérgicas, cada qual manifestará sua alergia de maneira particular e será alérgica à diferentes elementos; algumas terão rinite, outras asma, outras ainda urticária ou simples coceiras e assim por diante. O fenômeno em pauta é um só: a alergia. Entretanto, cada organismo tem sua própria maneira própria de manifestá-la.
Portanto, aquela velha mania das pessoas ficarem comparando entre si o que sentem não é suficiente para que se dê o diagnóstico de Depressão. Para alguns acontece da Depressão se manifestar através da Síndrome do Pânico, por exemplo, sem tristeza, sem desânimo e sem choro, enquanto, para outros ela se apresenta sob a forma Típica, com tristeza, choro e apatia. Outros ainda, podem apresentar sintomas físicos e assim por diante. Crianças deprimidas, em geral, costumam ir mal na escola, ficam rebeldes, irritadas e não se mostram tristes. Embora em todos os casos haja depressão, não se pode comparar sintomas.
O popular Esgotamento pode ser também uma outra forma da Depressão. Sentir-se esgotado é sentir-se sem disposição para a vida. Não para a vida em seu sentido biológico de continuar vivendo, mas à vida em seu sentido cotidiano; falta disposição para continuar, dia após dia, a enfrentar os mesmos problemas corriqueiros, falta disposição para enfrentar a monotonia e a constância da vida, para continuar à fazer as mesmas coisas, para suportar as mesmas pessoas, etc. Esgotamos, por assim dizer, nossa energia e nossa capacidade de adaptação ao trivial, ao feijão-com-arroz de nossa vida cheia de problemas.
O que se constata na clínica é que não existe um estado de esgotamento sem que haja também um estado afetivo diminuído. Esse estado afetivo pode ser a causa ou a conseqüência do esgotamento, ou seja; ou a pessoa teve um episódio depressivo e acabou por entrar em esgotamento ou, ao contrário, começou por apresentar um esgotamento que acabou resultando num estado depressivo.
Na Depressão Típica falta energia para tolerar conviver com nosso próximo, falta tolerância para aceitar o jeito de ser dos outros, falta ânimo para resolver problemas da vida, falta otimismo para acreditar que as coisas estão bem.
Hoje, mais do que nunca, há uma tendência (científica) em aceitar o fato da Depressão, seja por esgotamento ou sem motivos aparentes, ser conseqüência não apenas das experiências de vida atuais ou do passado, como se pensava antes mas, principalmente, causada por uma determinada alteração orgânica-cerebral (física).
Como dissemos antes, podemos dividir a Depressão em dois tipos básicos: a Depressão Típica, com todos os sintomas emocionais percebidos e sentidos pelas pessoas de maneira franca, ou seja, com um quadro predominantemente emocional de indisposição, insegurança, angústia, tristeza, apatia, desânimo, etc. e a Depressão Atípica, ou seja, com sintomas que não sugerem (à primeira vista) tratar-se de uma Depressão mas que equivalem à ela em sua essência.

Tipos de Depressão
À Depressão pode se manifestar como Depressão Típica ou Depressão Atípica. A Depressão Atípica é uma maneira disfarçada da Depressão se apresentar. Isso acontece, normalmente, naquelas pessoas que não se permitem sentimentos sem motivo e, apesar de já terem ido à muitos consultórios médicos com as mais variadas queixas e de terem feito inúmeros exames, continuam achando que a medicina ainda não conseguiu descobrir a causa de seus problemas.
A Depressão Típica, por sua vez, se manifesta com todos os sintomas emocionais típicos, tais como apatia, desinteresse, tristeza, desânimo, etc. A Depressão pode ser entendida como um estado afetivo rebaixado. Portanto, o que mais se constata na Depressão Típica é um cansaço ou inibição das atividades físicas e psíquicas tal como se houvesse uma perda de energia geral. Para as pessoas deprimidas todas as atividades parecem mais cansativas, difíceis e tediosas. Há um comprometimento do ânimo geral para tudo, inclusive para as atividades que deveriam dar prazer.

Depressão Típica
A Depressão Típica se apresenta através de sintomas afetivos diretamente relacionados ao humor. Pode haver angústia, acompanhada ou não de ansiedade, tristeza, desânimo, apatia, desinteresse e irritabilidade. Não é obrigatória a presença de todos esses sintomas ao mesmo tempo.
Na esfera intelectual há uma certa preguiça do pensamento, tornando-o lento e trabalhoso. Há diminuição da memória, a qual pode falhar e confundir as coisas, dificuldade para resolver problemas antes considerados fáceis e tendência à pensamentos negativos ou pessimistas. Por causa desses pensamentos negativos surge insegurança e auto-estima diminuída.
Fisicamente pode aparecer indisposição geral, apatia, sensação de peso ou pressão na cabeça, e zonzeira . Não é raro uma queixa de "bolo na garganta", como uma coisa que não sobe nem desce. É comum também impotência sexual ou frigidez, devido ao desinteresse ou mesmo a falta de energia para o sexo. Todo o organismo é prejudicado, podendo haver até maior tendência à infecções viróticas ou bacterianas (herpes, gripes, resfriados, etc).
Outros problemas físicos que existiam antes podem piorar muito na Depressão, como por exemplo; gastrite, diarréia ou intestino preso, asma brônquica, reumatismos, diabetes, hipertensão arterial, enxaquecas, labirintite e outras. Aparecem também queixas físicas vagas englobando palpitações, falta de ar, dores incaracterísticas, crises de sudorese, tremores, etc. Esses problemas físicos, embora sejam comuns nas Depressões Atípicas, aparecem também nas Depressões Típicas.
A Depressão proporciona ao paciente um estado que pode ser chamado de Inibição Psíquica Global, uma espécie de lentificação de todos os processos mentais, como uma preguiça cerebral geral. Isso acomete, por exemplo, o desempenho sexual, o apetite (que pode estar aumentado ou diminuído), a disposição e ânimo gerais, a capacidade de concentração e memória, a qualidade do sono. Essa baixa performance psíquica resulta em dificuldades para resolução dos afazeres do cotidiano e para tomar decisões.
Tanto os pensamentos quanto os movimentos parecem estar mais lentos. Para a pessoa deprimida tudo parece mais difícil e problemático. Parece não haver energia suficiente para a vida e até a vontade se compromete.
A progressiva perda de interesse do deprimido típico também é um sintoma marcante. No estado normal a pessoa está constantemente ligada aos estímulos e aos acontecimentos da vida em geral, interessando-se por tudo que se passa à sua volta.
Normalmente gostamos de saber aquilo que está acontecendo; os noticiários, as novelas da TV, , quais filmes e livros em cartaz, quais os times que disputam o campeonato, como está nosso cão, o que precisamos fazer em nossa casa, preço das coisas, notícias de conhecidos e assim por diante. Há sempre um interesse dirigido ao mundo à nossa volta. Na Depressão é comum que a pessoa tenha desinteresse para tudo isso.
A pessoa deprimida não quer mais saber das coisas da vida nem da vida dos outros, não se anima mais com aquilo que antes era interessante.
Outro sintoma marcante na Depressão Típica é em relação à Auto-estima, ou seja, em relação ao conceito que a pessoa tem de si mesma. O deprimido sempre se vê pior do que os outros ou bem pior daquilo que gostaria de ser. Na Depressão a pessoa vê-se péssima, chata, incompetente, etc. Também são negativas suas perspectivas de vida, seu futuro, suas doenças que serão descobertas, sua pobreza que sem dúvida virá, sua idade e assim por diante. Além da má idéia que o depressivo faz de si, ele sofre também com a idéia sobre aquilo que os outros estarão certamente pensando dele. Normalmente acha que os outros estão fazendo um mau juízo sobre sua pessoa.
Muitas vezes, embora o deprimido não tenha coragem e nem se permite idéias de suicídio, não obstante preferia não estar vivendo. Como cita Sêneca, ao falar da Tranqüilidade da Alma, a pessoa nesse estado se inquieta com perturbações imaginárias e, por fim, acaba preferindo morrer do que continuar vivendo morto.

Depressão Atípica
Como já dissemos, um grande número de casos de Depressão se apresenta de forma atípica, ou seja, sem que a pessoa se perceba deprimida e sem a grande maioria das queixas contidas na Depressão Típica.
Algumas pessoas acreditam ser obrigatório um motivo de vida (existencial) para aparecer a Depressão. Quando não detectam um motivo justo para sua Depressão, acabam achando impossível manifestar um sentimento depressivo. Pensam que se estivessem deprimidos sem motivos e apesar das coisas estarem bem, seriam considerados emocionalmente descontrolados. Nesse tipo de pacientes aparece a Depressão Atípica.
Por uma questão biológica e natural, normalmente as emoções não obedecem cegamente a razão e, apesar de sabermos racionalmente não haver motivos suficientes para nossa Depressão, esta alteração afetiva acaba aparecendo mascaradamente e com sintomas diferentes da Depressão Típica. Tais sintomas não deixam de representar um sinal de alerta sobre uma eminente falência psíquica (ou esgotamento, como gostam de dizer).
Vejamos um exemplo da autonomia de nossas emoções sobre nossa razão. Há pessoas que não toleram presenciar cenas de sangue sob o risco de passarem mal. Presenciando um médico de Pronto Socorro limpar os ferimentos de uma criança com extensas queimaduras, podem vir a desmaiar. Pois bem. O desmaio é uma defesa psíquica do organismo que não deseja presenciar a cena, portanto, uma atitude francamente psicológica. Essa fuga de uma realidade que não se quer presenciar é uma atitude planejada pelo nosso psiquismo sem que tenhamos participado dela conscientemente.
Ora, ninguém acredita que esse desmaio seja uma doença física que aparece sempre que o paciente estiver diante de uma criança com queimaduras. Portanto, trata-se de um desmaio eminentemente psíquico. Nem podemos pensar, também, que a pessoa desmaiou porque assim desejou nem que está fingindo um desmaio. Trata-se de uma atitude psíquica de adaptação à uma situação que não se quer presenciar. É a emoção subjugando a razão.
Como vimos neste exemplo, as emoções aparecem independente de nossa vontade, portanto, as alterações do humor aparecem mesmo diante de nosso eventual e pretenso controle.
Estima-se que até 40% dos portadores de Depressão tem, como manifestação principal, a ansiedade. Como a ansiedade apresenta um quadro muito mais exuberante e conveniente que o sintoma depressivo, os deprimidos atípicos acabam se achando apenas ansiosos e não depressivos. Essa situação de ansiedade é reconhecida por muitos como sendo também um caso de Esgotamento.
Podemos dividir essas Depressões Atípicas em dois grupos:
1- com sintomas predominantemente Físicos e;
2- com sintomas predominantemente Psíquicos.
Quando os sintomas são de natureza física aparecem em qualquer órgão ou sistema, quando são psíquicos se manifestam através de determinadas emoções que equivalem aos sentimentos depressivos, embora tenham outro colorido.
Dissemos predominantemente, porque haverá predomínio de sintomas físicos ou psíquicos em cada caso, mas a mesma pessoa pode apresentar tanto sintomas físicos quanto psíquicos ao mesmo tempo. É isso que acontece com mais freqüência, ou seja, a pessoa além da ansiedade, da fobia ou do pânico (sintomas psíquicos) apresenta ainda palpitação, sudorese, formigamentos, tontura, hipertensão, taquicardia (sintomas físicos) e assim por diante.

O Pensamento Depressivo
A Depressão se caracteriza também por tipos próprios de esquema de pensamento. As idéias e crenças da pessoa deprimida são, freqüentemente, negativas. Apesar dessas idéias parecerem artificiais e completamente sem fundamento para as pessoas não-deprimidas, ou mesmo para o próprio deprimido quando não está em Depressão, durante o momento em que o afeto está deprimido esses pensamentos parecem bastante verdadeiros. Depois de passada a crise de Depressão o próprio depressivo entende o absurdo de tais pensamentos.
Não há, evidentemente, apenas um esquema de pensamento característico para todos pacientes deprimidos mas, de um modo geral, podemos reconhecer certos esquemas de pensamento comuns à esses pacientes.
Conhecendo os esquemas de pensamento possíveis na Depressão, podemos entender claramente porque algumas palavras ditas sem nenhuma pretensão ofensiva e atitudes muitas vezes inocentes podem ser interpretadas negativamente pelos deprimidos. Uma simples brincadeira ao dizer que uma pessoa é feia, chata ou que está incomodando poderá ser interpretada ao pé da letra e não como uma simples brincadeira. Para o paciente depressivo essas brincadeiras podem representar verdadeiras. Podem também interpretar negativamente uma simples reportagem na televisão sobre determinado vírus ou doença.
A - Pessimismo
Devido ao fato da afetividade depressiva não permitir uma visão mais positiva da realidade, os deprimidos insistem sempre em considerar que a maneira negativa e sombria de perceber as coisas do mundo é uma maneira realista de viver.
Na realidade, se olharmos a vida com muita emoção vamos encontrar motivos que nos entristecem em qualquer lugar e em qualquer situação; crianças carentes, fome universal, guerras, violência urbana, seqüestros, carestia, insegurança social, corrupção, acidentes catastróficos e por aí à fora. Entretanto, é um dever para com nosso bem-estar estarmos adaptados à vida, com tudo que ela tem de bom e de ruim, sem necessariamente nos conformar com tudo.
Estar inconformado significa estarmos sempre procurando melhorar as condições atuais, fazer alguma coisa para mudar a situação para melhor. Esse inconformismo é uma atitude sadia e desejável. A adaptação, entretanto, nos obriga a continuar vivendo apesar de tudo. Reclamando, contestando, protestando ou agindo, porém, vivendo com saúde e determinação. Quando adoecemos por causa das coisas à nossa volta, do destino, da sorte, dos acontecimentos é sinal que estamos, além de inconformados (o que é natural) também desadaptados (o que não é normal).
Nos casos mais graves a pessoa deprimida passa a projetar nos outros as idéias pessimistas que têm à seu próprio respeito. O empresário começa a suspeitar que os outros comentam sua bancarrota, a mulher pudica suspeita que comentam à respeito de sua moral, a adolescente acha que estão comentando ser ela muito feia e chata, o sócio se acha enganado, o marido pensa que sua esposa já não o suporta mais e assim por diante. Na realidade são idéias pessimistas que nascem na própria pessoa e são projetadas nos demais.
B - Generalizações
No depressivo há uma tendência em generalizar pensamentos, porém, só os pensamentos negativos. Devido à um afeto que valoriza o lado ruim das coisas o deprimido tende a generalizar seu pensamento; nada em minha vida tem sido bom, tudo que eu faço está errado, para mim tudo é mais difícil, isso só poderia ter acontecido comigo, ninguém gosta de mim e coisas assim.
As generalizações pessimistas não levam em consideração o lado bom da vida. Não leva em conta também a saúde e bem estar daqueles que lhe são queridos, a consideração dos amigos, o fato de, bem ou mal, terem sido superados obstáculos para chegar até aqui, enfim, o deprimido excluí de suas generalizações qualquer elemento positivo de sua vida. E não faz isso propositadamente mas sim, infelizmente, conduzido por um afeto rebaixado. As lentes dos óculos da Depressão não mostram as coisas boas.
C - Pensamento Inseguro
Trata-se da sensação de insegurança muito comum aos deprimidos. Esse pensamento é responsável pela pessoa deixar de fazer certas coisas e de freqüentar certos lugares ou que evitem determinadas decisões.
Esse tipo de pensamento se reforça na tendência às generalizações. Há um constante questionamento; se não der certo, se ficar pior, se eu não tiver condições, se eu ficar mal comentado, se eu passar mal. Nos casos de Depressão Atípica a insegurança faz com que se evitem de situações onde certamente passarão mal.

A Química da Depressão
Não são conhecidas ainda todas as causas da Depressão e talvez ainda demore muito tempo para essa tarefa ser concluída. Entretanto, pesquisas nessa área sugerem fortemente influências bioquímicas importantes para a regulação de nosso estado afetivo. Pesquisas recentes sugerem também a importância de fatores genéticos na Depressão. Vem daí a incidência aumentada do transtorno depressivo em membros de certas famílias ou a concordância entre irmãos deprimidos.
Desde a milenar invenção do vinho temos noção dos efeitos de produtos químicos sobre a atuação da personalidade humana. Ao longo dos anos tem sido muito grande nossa inclinação para substâncias que aliviem nossos males, amenizem nossas angústias e proporcionem momentos de bem estar. Conhecendo a história do ópio, das bebidas alcoólicas e dos tóxicos passamos a aceitar melhor a idéia de algumas substâncias poderem alterar a percepção que se tem da realidade.
Os tratamentos medicamentosos para a Depressão procuram realizar uma correção bioquímica de tal forma que haveria um aumento no nível desses neurotransmissores , juntamente com um reequilíbrio dos neuroreceptores. Podemos, com esses conhecimentos, entender melhor a atuação de determinados medicamentos psicotrópicos, bem como a ação cerebral de outras substâncias entorpecentes e euforizantes, como é o caso da cocaína.
Medicamentos antidepressivos, muito em moda ultimamente e um dos mais expressivos avanços da ciência na área cerebral nesse século, promovem uma expressiva correção no nível dos neurotransmissores e, concomitantemente, também um ajuste na quantidade e qualidade dos neuroreceptores. Dessa feita procuramos através de medicamentos, promover uma normalidade na bioquímica cerebral compatível com uma tonalidade afetiva mais harmônica.

Que quadros podemos ter na Depressão
Em algumas pessoas a Depressão se apresenta de forma Típica em outros de forma Atípica. Nas formas Atípicas de Depressão podemos Ter, concomitantemente, variados quadros psicoemocionais:

A - QUADROS ANSIOSOS
A.1 – SÍNDROME DO PÂNICO
A.2 – FOBIAS
A.3 – ANSIEDADE GENERALIZADA
B – QUADROS SOMÁTICOS (com queixas
físicas)
B.1 – QUADROS SOMATOMORFOS
B.2 – DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS
B.3 – HIPOCONDRIA
C – QUADROS NA INFÂNCIA
D.1 – HIPERATIVIDADE
D.2 – MEDO PATOLÓGICO
D.3 – DIFICULDADES ESCOLARES
D – QUADROS IMPULSIVOS
C.1 – BULIMIA NERVOSA
C.2 – ANOREXIA NERVOSA
C.3 – QUADROS OBSESSIVO-COMPULSIVOS

Veja:
Depressão e Ansiedade
Depressão Infantil

A – Os Quadros Ansiosos
Em resumo podemos dizer que os estados depressivos proporcionam grande sensação de insegurança e está aí a origem da ansiedade na Depressão. Muitas situações, fatos e circunstâncias podem significar ameaça ao deprimido, como por exemplo, viajar sozinho, sentir-se preso num elevador, esperar numa fila do banco, estar em locais muito cheios de gente, cismar com alguma doença, sentir-se avaliado pelos outros, enfim, uma série de circunstâncias passam a nos representar ameaças devido à nossa insegurança.
Diante de situações de ameaça, mesmo que represente ameaça apenas para o paciente deprimido, a reação será de ansiedade. Essa ansiedade será patológica, tanto devido à sua intensidade quanto à sua freqüência.

B – Os Quadros Somáticos
São aqueles que se manifestam predominantemente com queixas físicas. A Depressão, ao invés de se manifestar tipicamente com quadro clássico de tristeza, choro, indisposição, apatia, etc., manifesta-se com queixas físicas.
Quando essas queixas, apesar de incômodas ao paciente, não são constatadas por exames médicos, por exemplo, pelo eletrocardiograma, pelo raio x, pelos exames de sangue, etc., falamos em Transtornos Somatomorfos. Incluem-se aqui as queixas dolorosas, as palpitações, falta de ar, tonturas, formigamentos, etc.
Quando a Depressão determina ou mesmo agrava certas doenças as quais podem ser confirmadas por alterações em exames médicos, como por exemplo, a diabetes, a hipertensão arterial, asma, alergias variadas, labirintite, etc., falamos em Doenças Psicossomáticas.

C – Os Quadros na Infância
A Depressão na infância é quase sempre Atípica. Um dos quadros mais freqüentemente associados à Depressão Infantil é o Transtorno Hiperativo, normalmente acompanhado de dificuldade de atenção. As crianças em idade pré-escolar com este quadro são muito hiperativas, sem noção de perigo, estabanadas ao extremo e, em idade escolar, além disso tudo também com severo prejuízo no rendimento didático.

D – Os Quadros Impulsivos
São pouco conhecidas as implicações da depressão com os principais quadros impulsivos, notadamente em relação à Bulimia Nervosa, caracterizada por impulsos incontroláveis de comer, seguidos de profunda sensação de arrependimento e atitudes aliviatórias, tais como provocar o próprio vômito, abusar de laxantes e diuréticos. Também em relação à Anorexia Nervosa, caracterizada pela recusa sistemática em alimentar-se acompanhada da distorção patológica quanto ao esquema corporal (acham-se sempre com peso acima do ideal).
O quadro Obsessivo-Compulsivo se caracteriza por pensamentos absurdos que invadem a consciência mesmo sem o consentimento do paciente, fazendo com que este adote atitudes compensatórias para alívio da ansiedade.
Nestas 3 circunstâncias o tratamento faz-se, preferentemente com antidepressivos.

O Tratamento da Depressão
Se a Depressão pode ser considerada, hoje em dia, realmente uma doença que acomete o ser humano então, como qualquer outra doença, deve ser tratada pela medicina. E a medicina dispõe, felizmente, de recursos muitíssimo satisfatórios para este tratamento.
Desde o descobrimento dos primeiros antidepressivos, na década de 50, até hoje, muito se progrediu nessa área. Atualmente os medicamentos para depressão são muito eficientes, específicos e cada vez com menos efeitos colaterais. Os antidepressivos NÃO são calmantes. São substâncias específicas para a correção do humor ou do afeto.
Se o tratamento deve ser mais prolongado ou mais breve é uma importante questão que deverá ser avaliada pelo médico e discutido com o paciente. O paciente deve saber sobre a natureza dos medicamentos, suas ações e efeitos adversos, sobre o tempo previsto para sua ação terapêutica (normalmente em torno de 2-3 semanas), bem como a previsão de tempo de uso.
É sempre importante termos em mente que os sintomas ansiosos e físicos desaparecerão com o tratamento da Depressão na expressiva maioria dos casos, sem necessidade de ansiolíticos (calmantes) e/ou medicamentos sintomáticos. Havendo necessidade desses medicamentos para alívio mais rápido de sintomas físicos e ansiosos aborrecedores e que normalmente são a principal queixa que motiva a consulta, devemos considerar o curto espaço de tempo em que serão usados. O principal medicamento será sempre o antidepressivo.
Se o paciente é deprimido, o tempo de tratamento pode ser mais longo e, inversamente, se o paciente está deprimido, passa apenas por uma fase de Depressão, podemos pensar num tratamento mais breve.
Fonte: http://gballone.sites.uol.com.br/voce/dep.html#1

1 comentário:

Iara De Dupont disse...

oi visite o meu blog da síndrome do pânico, uma experiência pessoal-infernal, obrigado.