| Nesse ponto, sempre evoco Hanif Kureishi, escritor inglês de origem paquistanesa muito perspicaz nas agruras dos que tentam incansavelmente atingir um relacionamento que seja a um só tempo companheiro, respeitoso, repleto de afinidades e desejo, e, se possível, de poesia, e sempre me impressiono com suas palavras. Todos os seus romances trazem à tona a questão da dificuldade em se estabelecer o diálogo verdadeiramente amoroso, em conquistar a intimidade entre o casal, e ainda assim manter a integridade, a admiração e o interesse um pelo outro, sem que a beleza se esvaia na descida até | |
| os ínferos da jornada conjugal.
E Kureishi, na voz de Jay, personagem do romance “Intimidade”, escreveu: “Tento me convencer de que abandonar uma pessoa não é a pior coisa que se pode fazer a alguém. Talvez seja melancólico, mas não precisa ser trágico. Se a gente nunca deixa para trás nada nem ninguém, não sobra lugar para o novo. Naturalmente, avançar é uma infidelidade – para com os outros, o passado, as antigas idéias que cada um faz de si. Continuar seria uma atitude otimista, esperançosa, que garantiria a crença no futuro – uma declaração de que as coisas podem ser melhores, e não apenas diferentes”. Em nome dessa crença, já abandonei um grande amor. E mais outro depois dele. Porque achei que as coisas poderiam ser melhores, e não apenas diferentes.
Era bom, mas algo secretamente gritava em mim reivindicando o apogeu, suplicando o ápice que jamais fora atingido, e que mesmo nunca tendo sido experimentado, organicamente sabia ser capaz. Em nome dessa crença, amigas desfizeram casamentos. Muitos deles pareciam tão felizes, tão “perfeitos”.
Em nome dessa crença, se lançaram à solidão e ao absoluto abandono. Porque mulheres são assim, viram a página e colam, para depois escrever outra. Não gostam de ir emendando suas histórias feito tiras de gibi, banalizadas e sem intervalo. Mas intimidade custa muito caro quando começa com a paixão. Porque paixão é um troço perigoso. Vem feito torrente de emoções, descontrolada, desprogramada, sem ajustes. Se equaliza com o tempo, mas há que haver tempo para tanto. É tanto acúmulo de desejo e sentimento e de vontade e fantasia e de saudade e desespero que quando sai, sai vomitado, explodido, às vezes lindo, às vezes feito coice de cavalo. E quando a gente vê, de um desejo alucinado, resultou a estupidez.
De uma vontade tão enorme de estar junto, e de um medo tão grande de ouvir “não”, acabou se antecipando, e foi agressivo antes do tempo, antes até que o “não” viesse (sem saber se ele viria, só por precaução, só pra não sofrer, meu Deus, que é isso?), e fica tão estupefato com essa falta de controle que chega a perder a fala e não sabe como se desculpar.
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