| O distúrbio é caracterizado pela contração involuntária dos músculos da vagina, que impede qualquer tipo de introdução no órgão sexual feminino. Ou seja, a mulher não consegue ter relações sexuais, se tocar internamente e ser consultada por um ginecologista. Absorventes internos também estão fora de cogitação.
Essa situação incomoda as vítimas e seus parceiros, pois o sexo nunca consegue ser consumado pelo casal. “Não é pelo desejo da paciente. Ela tem libido e desejo, mas durante a penetração ocorre a contração dos músculos da vagina. Tanto na penetração do pênis quanto no exame ginecológico, a |
|
| mulher com vaginismo tem muita dor”, explica a ginecologista Paola Fasano, de São Paulo.
Para esclarecer o assunto, os psicólogos e psicoterapeutas sexuais Fátima Protti e Oswaldo M. Rodrigues Jr. lançaram o livro “Vaginismo, quem cala nem sempre consente”, pela Editora 24x7. A idéia de escrever sobre o distúrbio surgiu devido à falta de obras que abordem o tema. “A primeira motivação de escrevermos o livro foi a falta de bibliografia e estudos em português. A segunda foi produzirmos um grupo de atendimento que nos auxiliasse a reorganizar as técnicas psicológicas que normalmente usamos em psicoterapia individual de mulheres com queixas de vaginismo”, diz Oswaldo M. Rodrigues Jr, um dos autores da obra e diretor do Instituto Paulista de Sexualidade.
De acordo com o psicoterapeuta, esse problema sexual atinge de 2 a 6% das mulheres. “Esses dados foram de pesquisas com grupos diferentes em países diferentes. De toda a maneira, mesmo usando as estatísticas mais baixas o número absoluto de mulheres com vaginismo na grande São Paulo, por exemplo, alcançaria muitas dezenas de milhares. Este é um número muito expressivo que ainda não tem como ser tratado em serviços públicos, nem existem profissionais que atuem especificamente com esse problema em clínicas particulares, a ponto de dar conta desta demanda deprimida”, afirma.
“Tem que conversar muito com as mulheres, descobrir onde está a causa disso. A maioria é psicológica e involuntária” | | A bancária Milena Cardoso* faz parte dessa porcentagem de mulheres vítimas de vaginismo. Quando tentava ter relações com seu ex-namorado, ela sentia muita dor e achava que o problema estava em seu relacionamento. “Por mais relaxada que eu estivesse, não conseguia fazer sexo. Aquilo me incomodava demais. Pensei que na verdade não o amava, então, não conseguia fazer sexo, por mais vontade que tivesse”, declara. |
Milena conta ainda que o ex-companheiro chegava a forçar uma penetração, aumentando sua dor. “Nós chegamos a ter algumas relações, mas todas com muita dor. Lá pela terceira vez, não consegui mais. Daí eu não agüentei e terminei o relacionamento”, diz.
A bancária só decidiu procurar um especialista após o problema persistir com seu novo namorado. “Fui ao ginecologista e expliquei tudo. Ele tentou me examinar para ver se tinha algum problema interno e não conseguiu. Pedia para eu relaxar e nada. Até que ele falou que aquilo se chamava vaginismo e me indicou um terapeuta sexual”, lembra Milena.
Na terapia, ela descobriu que a causa da contração era inconsciente. Por ter tido uma educação repressora, sem perceber a bancária não conseguia relaxar totalmente durante o ato sexual. “Era algo involuntário, nem eu sabia disso. Comecei a conversar bastante com a terapeuta e com meu namorado e fiz uns exercícios com o ginecologista. As coisas estão melhorando”, garante Milena Cardoso.
Segundo a ginecologista Paola Fasano, “tem que conversar muito com as mulheres, descobrir onde está a causa disso. A maioria é psicológica e involuntária”. O psicoterapeuta Oswaldo M. Rodrigues Jr. completa que todo tratamento deve ser feito com psicoterapia focada na sexualidade, por meio de técnicas comportamentais. “Não existem medicações, nem cremes que produzam efeitos, sequer passageiros, para tratar este problema. A psicoterapia deve ser feita por um psicólogo que conheça e saiba aplicar estas técnicas. De preferência, o marido ou parceiro da paciente deve estar junto nas sessões semanais, que têm duração de 50 minutos”, indica. O tratamento dura, em média, de seis meses a um ano. Tudo depende da evolução da paciente.
Além da terapia, também são recomendados exercícios para que a penetração ocorra aos poucos. “Tem que dar uma orientação para a mulher se conhecer. Penetrar objetos, dedos, para que ela mesma consiga vencer isso. O parceiro também pode ajudar, fazendo uma penetração progressiva, tentar cada vez mais um pouquinho. Se necessário, utilizar gel”, acrescenta Paola. “Mas tudo com o acompanhamento psicológico”, reforça ela.
A falta de conhecimento a respeito do vaginismo faz com que muitas mulheres procurem um especialista só após o casamento, quando pretendem ter filhos. Antes disso, elas tentam evitar as relações sexuais incômodas e doloridas.
Porém, o problema tem solução. Vale a pena procurar um especialista para resolver esse distúrbio. Afinal, ele afeta tanto a vida sexual quanto a saúde da mulher, já que impossibilita até a realização de exames ginecológicos. |
Sem comentários:
Enviar um comentário