terça-feira, 3 de junho de 2008

Reposição hormonal pode causar problemas à saúde?



Calores, menstruações irregulares, suores noturnos, irritabilidade, ressecamento vaginal e diminuição da atenção e memória. Mulheres com mais de 40 anos logo relacionam esses sintomas a um importante período da vida feminina: a menopausa.


Esse estágio acontece quando os ovários param de funcionar, ou seja, eles deixam de produzir os hormônios estrógeno e progesterona. Não existe uma idade pré-determinada, mas na maioria das vezes a menopausa ocorre entre os 45 e 55 anos.

Para lidar com os sintomas que acompanham essa fase, os ginecologistas indicam tratamentos com hormônios, a chamada reposição hormonal. A paciente visita o consultório e, após uma bateria de exames, é recomendada a dose exata da sua medicação. Porém, algumas pesquisas sugerem que a



reposição hormonal pode aumentar o risco de derrame, câncer de mama e doenças coronárias.

O maior estudo do mundo sobre o tema é o WHI (Women’s Health Initiative). Realizado com mais de 16 mil mulheres com idades entre 50 e 79 anos. Ele demonstrou que a reposição de estrogênio e progesterona aumenta a incidência de câncer de mama e de algumas doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio e tromboembolismo.

O WHI apontou também que as mulheres que se submetem à reposição hormonal por vários anos têm até 40% mais chances de sofrer um acidente vascular cerebral. Além do risco de derrame, a possibilidade de desenvolvimento de câncer de mama aumenta 26% e as doenças coronárias, na superfície do coração, crescem 29%.

No início de maio, cardiologistas e ginecologistas discutiram a pesquisa, feita em 2002 e inédita no Brasil, durante o XXIX Congresso da SOCESP (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), na capital paulista. A coordenadora do projeto SOCESP Mulher e cardiologista do InCor-SP, Walkiria Ávila, diz que a reposição hormonal não tem influência nos problemas cardiovasculares.

Segundo a cardiologista, “na pós-menopausa existe um maior risco cardiovascular para a mulher, independentemente de estar fazendo tratamento com hormônios”. No entanto, Walkiria alerta para a importância de fazer exames antes e durante a reposição. “É preciso fazer exames de colesterol, glicemia, avaliação prévia, avaliações cardiológicas e exames de rotina”, diz. Tudo para garantir um tratamento tranqüilo.

“O importante é sempre procurar um ginecologista para realizar o tratamento mais adequado quando chegar a menopausa, além de se submeter a todos os exames necessários”

O estudo também foi comentado no 12º Congresso Mundial de Menopausa, entre os dias 19 e 23 de maio, em Madri, na Espanha. Nilson Roberto de Melo, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), esteve no evento e conta que a reposição hormonal não causa problemas quando é feita no momento certo.


“Existe uma coisa chamada janela de oportunidades. Se a pessoa fizer a reposição no momento adequado, não há problema. Para prevenção cardiovascular seria interessante iniciar o tratamento nos primeiros seis anos após a menopausa”, declara.
Ainda de acordo com o ginecologista, o acompanhamento de um cardiologista durante a medicação com hormônios só é necessário se houver algum problema de saúde direcionado para essa área.

É sempre importante consultar um especialista quando chegar à menopausa e não se basear nos medicamentos que amigas, irmãs ou até mesmo a mãe já tomou. O especialista recomenda o tratamento para mulheres com sintomas de pontos de calor, que passaram a ter insônia após a menopausa, alterações de humor, secura vaginal, prevenção da perda óssea e para uma melhora na qualidade de vida.

Mas as medicações podem acarretar em alguns efeitos colaterais, como retenção de líquido e dor mamária. “Isso significa que a dose está muito alta e que os hormônios precisam ser revistos”, explica o médico.

Segundo Melo, as mulheres que já tiveram câncer de mama, de endométrio, trombose, derrame e que têm algum sangramento de causa desconhecida, não podem utilizar os hormônios. Para elas, existem os tratamentos alternativos. “Existem os derivados de soja, cujo resultado para melhorar as ondas de calor não é tão adequado. As drogas mais eficazes seriam as usadas para depressão, como venalafaxina. A segunda opção seria utilizar um medicamento para cada sintoma”, indica o ginecologista.

A dona-de-casa italiana Anna Salvador, de 63 anos, faz reposição hormonal há 11 anos. Ela começou a sentir os sintomas da pós-menopausa e consultou um ginecologista, que receitou nove tipos de hormônio. Porém, os medicamentos não faziam efeito. “Eu sentia aqueles calores. Italiano já é nervoso, então, só piorava.
Também comecei a entrar em depressão e mesmo com o remédio nada passava”, recorda. Depois de várias consultas médicas, a dona-de-casa encontrou o medicamento certo e toma o mesmo há cinco anos.

Para ela, a reposição hormonal não causou problemas de saúde. “Não sei se é porque qualquer coisa estranha que sentia eu já falava ao médico, mas nunca notei grandes diferenças. Todo ano eu faço os exames necessários com o ginecologista”, afirma.

O importante é sempre procurar um ginecologista para realizar o tratamento mais adequado quando chegar a menopausa, além de se submeter a todos os exames necessários. Cada organismo reage de um jeito, então, o acompanhamento médico é essencial para passar por essa fase da vida com tranqüilidade.

Sem comentários: