Morte e vida unem-se, formando um processo único de evolução - "o fogo vive a morte do ar e o ar vive a morte do fogo; a água vive a morte da terra e a terra a morte da água". Assim, a morte não significa destruição, ruína, mas fonte de uma nova vida: a todo momento a morte atua e a vida surge. Daqui resulta que é impossível, num dado instante, atingir a permanência, a estabilidade, seja do que for; tudo flui, tudo devem, a todo momento uma coisa nova - "Você não pode descer duas vezes o mesmo rio, porque novas águas correm sempre sobre você". Mas, se assim é, as coisas, ao mesmo tempo, são e não são elas próprias, e o mesmo processo de evolução atinge a nós - "Somos e não somos" - Transformamo-nos constantemente.
Bento de Jesus Caraça
Nos dias que se seguem não faltam congressos e seminários, propositadamente organizados e solenemente encerrados, para abordar e debater temas relacionados com mudanças: "Para ultrapassar a crise e fazer frente aos desafios de amanhã, temos que mudar de mentalidade...", insistem os conferencistas. Mas, na realidade, algo paradoxal está acontecendo. Se por um lado, queremos ser diferentes daquilo que somos e acreditamos na transformação das pessoas e das instituições, por outro, muito da nossa atividade cotidiana continua a revelar pouco de inovador e de diferente.
Em vez de pensar no que ainda não foi imaginado, de dizer o que ainda não foi pronunciado, de experimentar o que ainda não foi ensaiado, e de admirar o que ainda não foi sentido, preferimos, pelo seguro, banquetearmo-nos com a "comida requentada" da rotina, dos "conformes" e dos "doces hábitos" que tanto conforto nos dão. Defendemo-nos de tudo o que possa fazer perigar o nosso costumado modo de pensar, agir e de estar-na-vida.
Numa sociedade em permanente e acelerada mutação, como é aquela em que nos encontramos, cada vez tem menos sentido falar-se de imutabilidade. Instituição, grupo ou pessoas que retenham os seus conhecimentos, refreia as suas aptidões e cristaliza as suas condutas, mantendo-se hoje como ontem e amanhã como hoje, tem os dias contados. Estamos colocando em perigo a sua sobrevivência e credibilidade.
As pessoas e as coisas nunca permanecem como são. Mudam para melhor ou para pior. Só é duradouro aquilo que se transforma e renova. O filósofo grego Heráclito tinha a razão do seu lado quando, no século IV a.C., apregoava: "não há nada permanente a não ser a mudança".
Mudar é ter disponibilidade para perceber e interpretar criticamente os nossos sentimentos, aspirações e modo de agir. É por em questão e sem ansiedade as nossas certezas, posições e valores, mesmo os mais intocáveis. É querer que hoje seja diferente de ontem e o amanhã desigual do hoje. Só assumindo a aventura do risco poderemos escrever livremente a nossa história e ter nas mãos o nosso destino.
Quando nascemos foi-nos entregue o livro da vida. As páginas estavam em branco, cabendo a nós escrevê-las pela nossa própria mão. Não temos de seguir um plano definido por outrem, nem decifrar em cada página o que os outros escreveram. Porém, aconteceu que, quando éramos crianças, os nossos pais, professores e educadores, escreveram por nós, os primeiros capítulos, o que não quer dizer que não estejamos de acordo com eles. Nada nos obriga a continuar a escrever a nossa vida como eles começaram.
Viremos a página e, hoje mesmo, peguemos na caneta e comecemos a escrever a nossa própria história. Não esquecer que só vivemos uma única vez.
(Daniel C. Luz)
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Há 4 anos
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